No fim de 2019 tomei uma decisão muito importante, e muito radical na minha vida. Rompi com meus amigos. Não foi uma decisão fácil, mas não posso afirmar até o momento que tenho arrependimento.
Aos meus detratores, tenho muito a dizer e nenhuma oportunidade de falar e acredito que o dia de uma conversa franca e direta nunca chegará. Daí a necessidade de expor aqui minhas razões.
A começar pela indignação que já vinha crescendo dentro de mim, uma sentimento de injustiça política que era obvia aos meus olhos e cega para meus amigos, mas que no momento era por mim aceitável, minha arrogância me deixava confortável em crer que eu tinha olhos para enxergar o cenário obscuro que se passava no país e que cedo ou tarde meus pares também o fariam e assim poderíamos juntos nos indignar diante da absoluta desfaçatez dos atos que se passavam nos jornais.
Mas para minha decepção e desespero, aqueles quem eu chamava de amigos tomaram um caminho totalmente divergente, um oposto medonho e foi ai que eu realmente consegui enxergar que meus parceiros não rezavam pela mesma cartilha da vida que eu.
E nisso, foi-se revelando personalidades com as quais eu jamais imaginaria ter contato. Valores que eu acreditava que eram universais e plenos para mim eram impossíveis para eles. Percebi que a capacidade de indignar-se com o injusto, com a covardia, com a mentira, com a violência, com a mediocridade. Eram valores antigos carregados de preconceito e intolerância.
Foi nesse insight que percebi que meus amigos tinham uma visão de vida, de sociedade, totalmente divergentes das minhas, e nesse momento meu mundo caiu. Justamente eu que me enxergava muito apegado à minha galera constatei que eu é quem estava no grupo errado.
A partir comecei a questionar o valor dessas amizades em minha vida, o que realmente essas pessoas acrescentavam em minha vida? Seria eu o errado na maneira de visualizar realidade?
Comecei a cobrar posicionamentos, a desnudar comportamentos hipócritas, a mostrar minhas convicções de maneira transparente. Tudo isso no intuito de obter respostas às minhas perguntas, sempre na esperança de que na minha arrogância de saber tudo, que estava equivocado, que meus amigos sim compartilhavam do mesmo prisma da realidade que eu.
Excetuando um ex amigo que demonstrou que não tinha nenhum respeito ou consideração pela nossa amizade, e que pasmem até compartilha das mesmas convicções que eu, o que se aventou no meu horizonte foi um coletivo de ataques pessoais na tentativa vã de defender posicionamentos retrógrados e cretinos.
Acabei por assim, forçosamente, me afastando lentamente de cada um deles, sem dar explicações ou por criar conflitos. Alguns ainda que timidamente buscaram explicações, outros criticaram meu posicionamento, definindo-o com radical. "Vai brigar por política é?" Diziam.
Mas nenhum deles conseguiu entender realmente meu afastamento e não os culpo. A profundidade dos meus motivos não foram explicados ou não se deram o trabalho de querer explicações, e talvez não entenderiam ou de certa forma se sentiriam aliviados com minha ausência.
Meu grande medo é ter que algum dia assumir para mim que nunca tive amigos verdadeiros, que na realidade nossa amizade sempre habitou no campo superficial das coisas e que na realidade sempre fui um ser só, e me alimentava desses miúdos de atenção para preencher o vazio que existe em mim.
Não há como negar que em 2 anos de isolamento, a solidão me seja benéfica, ou que tenha me trazido juntamente com a reflexão o menor resquício de felicidade. Me atormenta sentir falta de algo que já não sei se o tive.
Tenho que arcar com peso das minhas atitudes, o preço é tão alto que beira a insanidade, mas sigo firme nos meus posicionamentos.